A Aventura de Zé Carlos Bacamarte na Terra do Fogo Eterno

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Olha amigo, vo lhe contando
Agora um fato curioso
Do dia que, por querer,
Encontrei com o tinhoso

Tava eu vivendo assim
Da vida bem desgostoso
Nessa sofrida labuta
Sem contar nada de novo

De todas veiz que pelejei
Sempre saí vitorioso
E não tinha desafio
Qu’eu não vencesse com gosto

Nem coroné, nem jagunço
Nem cabocla me pareia
Só nunca tive saco mesmo
Pra papo de missa em igreja

Nunca fui cabra arrogante
Por favor, não me entenda mal!
Mas a graça dessa vida
É desafiar geral!

Eis que um dia caminhando

Passei na frente da capela

Ouvi o padre falano

Pras cadera e pras janela:

-Lucifér foi um arcanjo

Inteligente e garboso

Mas foi desafiar a Deus

E acabou como tinhoso!

Aí que eu fiquei pensando

Que mesmo do céu enxotado

O antigo anjo virou

Príncipe dos Desesperados

Pois com esse pensamento
Fiz eu logo um trabaio
Acendi 3 vela preta
enquanto olhava de soslaio

Pus um copo de aguardente
Invocando o Belzebu
Mas o tinhoso não veio…
Fiquei triste pra chuchu

Fui pra casa cabisbaixo
Dei um beijo na esposa
Me deitei igual raposa
Nem pendurei meus balaio

Foi aí, meu amigo,
Que algo estranho aconteceu!
Não sei se tava dormindo
Ou se sonambulei eu

Mas fui andando depressa
Num lugar escuro e quente
Quando a luz quase me cega
Lucifér na minha frente!

-Quem ouzas me invocar?
Disse o diabo furioso,
Lôro e lindo era ele
Tinha até os chifre lustroso

-Tu não lê meus pensamento?
Disse eu todo atrevido,
-Sou Zé Carlos Bacamarte.
Não espante os teus ouvidos!

Nunca nem ouvi falar!
Disse o diabo zombeteiro
-Seu sotaque não me engana.
Tu só pode ser mineiro!

-Uai hômi, como pode?
Tu acertou foi de primeira!
Fui criado em Matogrosso
Mas parido por mineira.

-Eu sou demônio ocupado
Tenho guerras pra fazer.
Diga logo o que tu queres
Ou vou mesmo me enfurecer…

-Seu diabo sou mineiro
Empresário e lutador!
Conquistei tudo na vida
Terras, trabalho e amor…

Mas pra dizer a verdade
Ando meio arrepiado
Achando que já nessa vida
Me está tudo acabado

Sempre tive todo gaiz
Pra correr atrás dos sonhos
Fui então ficando véio
Cada dia mais tristonho

Queria mesmo um desafio
Pra que animasse mais
Então vim aqui pro inferno
Pra vencer o Satanáis!

-Que mineiro atrevido!
Querendo chamar atenção…
Vamos aqui fixar os termos
Da nossa competição:

O primeiro que chegar
Num lugar que não existe
E de lá mesmo voltar
Ganha tudo, até meus chifre.

-Mas que desafio doido…
Como eu posso resolver?
Se o tal lugar não existe
Não tem nem como vencer!

E eu chorei amargamente
Pensando no que fazer
Vim pro inferno me gabando
…Só posso agora correr

Passei sebo nas canelas
Pensando que ia perder
Amor, posses e prazeres
Nunca mais iria ter

Acordei todo suado
Era pois um sonho vão!
Beijei a nuca da véia
Que valor teve isso então!

Afinal ter muitas coisas
Até tem o seu valor
Mas manter o que se ganha
É mostra-se merecedor

O diabo, meu querido,
Me ensinou uma lição
O desafio da vida
Não era a conquista, não!

O verdadeiro desafio
Era saber aproveitar
O muito ou o pouco ganho
Até minha alma ele levar.

A história acabaria
Aqui bonita e com lição
Mas A temível gargalhada
Ressoou por meu saguão…

Fui então ver o quer era
A procura foi em vão
Nada lá embaixo achei
Exceto um espelho no chão

Quando nele me olhei
Tinha cornos na cabeça
Mas a véia era  honesta
Inocente com certeza!

-Pois Zé Carlos Bacamarte,
Veja que cumpro meu trato:
Tu agora és o diabo
Vais fazer tudo que eu faço.

A voz seguiu seu discurso,
tinha mais o que dizer:
-Tenho férias atrasadas
Muitas coisas por fazer

Meu retorno, não aguardes
Ganhastes da aposta o quinhão
Afinal, fugir do inferno
Não é pra qualquer um não.

-Mas como posso ter fugido
Se o inferno é real?
-Homem deixe de bobagem!
Tu tá sonhando, animal!

 

Ode a Frida Kahlo

É isso mesmo pessoal: não é promoção, é edição comemorativa limitada!

Pomba Gira

Camisetas da Gretchen por apenas 3x de R$ 99,29! Você nunca viu nada igual!

Essa edição comemorativa, pessoal, é para celebrar os 150 anos de nossa heroína, Gretchen! Essa grande escritora que pintou dezenas de quadros de arte moderna no século XIX lutando contra a repressão da sociedade através das artes plásticas! Essa mulher louvável, que pegou AIDS várias vezes de seu marido Zé Pilintra e decidiu chutar o pau da barraca e viver sua vida pintando quadros sobre ter um caso com sua vizinha lésbica, e que hoje conseguiu sua emancipação na terceira idade como dançarina pornô do Gugu, recebeu ontem a maior honraria concedida pela TV brasileira: um abadá de piriguete.

Ao comprar a camiseta vocês coloboram com a excelente causa social de quitar os 14 meses de prestações devedoras da cirurgia dessa grande mulher, que agora é um homem decente e batalhador, que ganha a sua vida fazendo novelas na rede globo e surfando na praia de Copacabana! Um exemplo que trocou a AIDS pelos coliformes e estará competindo nas próximas paraolimpíadas da AACD como eunuco.

E não é só isso! Na compra de duas camisetas você só paga uma, na compra de duas você paga 3 e na compra de 3 camisetas você leva outra camiseta tamanho GG de brinde com direito a uma seringa cheia de AIDS pra você e um(a) acompanhante!

Vai ficar fora dessa ou prefere ser chamado de homofóbico? Ligue já!

As Aventuras de Satanildo

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Cruzando os céus, com sua vaca imaginária, lá vinha Satanildo, filho de Satanás, mãe do anticristo…

Vagando pela escuridão dos shoppings da rua Augusta em direção à ferrovia aquática de Juazeiro do Norte, de onde encontraria sua missão: içar a bandeira da Noruega no rêgo da Torre Eiffel que, na verdade, é uma velha freira disfarçada de Oscar Niemeyer.

– Oh, mas que terras distantes são estas que avisto de além-mar? – dizia Satanildo ao cruzar o Aqueronte e se deparar com o maior empecilho de sua jornada na qual orgulharia sua mãe, Satanás, uma velha coroca para a qual nenhuma de suas entregas de pizza era suficiente para torná-lo Marechal das Potestades: um acampamento infantil de menores de idade não tão menores assim, mas não grandes o suficiente para pagar os próprios impostos.

Sim, Satanildo estava em Ibipitanga em meio a um acampamento de adolescentes que se divertiam chafurdando em sua própria ignorância num concurso cruel de flatulência interestadual dentro da barraca 6 cujo odor subia como cheiro suave de gardênias misturadas a ovos podres em conserva até as narinas de Satanildo e lhe lembrava os bons tempos da infância onde dançarinas de axé desciam até o chão na banheira do Gugu pois, naqueles tempos, não haviam gays sobre a face da Terra e tudo era harmonia e paz, pois Malafaia nos dizia o quanto a vida era bela… Até o dia em que Lula Molusco retornou do abismo com 19 dedos e graças às suas obras aumentariam eternamente o preço da gasolina.

Quando se lembrou do ranço que os intestinos de sua mãe produziam ao amanhecer ocorreu a Satanildo que deveria pedir perdão por alguma coisa que não se lembrava de ter feito, planejado ou deixado de fazer. Mas Satanildo sabia que sua mãe jamais o perdoaria por ter abandonado a faculdade de engenharia… E para quê? Para fundar a Microsoft 2.0 e vender Windows Phone pirata na 25 de março.

Mas esses dias terminariam tão logo Satanildo descobrisse como passar incólume ante o malfadado acampamento.

– Tira uma foto de nóiz aí féi!!!

– Com o celular?

– Não! Com a sua bunda!

– Peraí que tá carregando a câmera…

– Ah, eu não quero sair na foto não. Meu cabelo tá uma bagunça. Vou pra minha barraca.

– Moço, faz silêncio aí que eu quero dormir, caraí!

– Moço, o povo não quer tirar foto não…

– Ah, vai. Tira só a minha aqui na barraca mesmo.

– Falou, lá vai…

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– Essa é minha oportunidade! Serei rico! Famoso! Milionário! Provarei minha existência aos humanos e abrirei uma filial do Subway que detonará todas as lanchonetes de 25 dos 26 estados brasileiros! É agora ou nunca! – Pensou Satanildo.

– Moço, que foto esculhambada é essa? Quem é esse que tava aqui atrás?

– Véi!!! Na moral… Não tinha ninguém lá quando eu bati essa foto… #medo

Enquanto os pequenos grandes enormes e minúsculos adolescentes se debatiam de terror, Satanildo pairava suavemente sobre as pastagens da lua com sua fome encantada pra um happy hour com Constantine e Padre Quevedo, que, eventualmente ordenhava suas vacas para pagar as prestações do FIES, ainda não quitadas…

Próxima parada: Rêgo da Torre Eiffel! E que comece o Apocalipse…

O Conto do Diabo Inocente

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Era uma vez uma criatura de Deus. Dela pouco sabemos, mas se rebelou contra seu Criador, ganhou adeptos e fez muito barulho desde então.

Alguns vêem nele um herói romântico cujo único erro foi tentar “melhorar” o reino de um tirano absoluto. Outros dizem que todas as suas ações são absurdas e inexplicáveis, que ele é a origem do mal e da crueldade e não compreendem como pôde se rebelar contra quem o fez perfeito, tudo lhe deu e amou até que um dia, esta serpente decidisse, sem mais nem menos, morder a mão que o alimentava… e cuspir no prato.

No julgamento da questão, especialistas se debruçaram na tentativa de entender o caso:

– Veja bem, o Criador é onisciente: ele sabia que isso ia acontecer e mesmo assim o fez. Portanto era da vontade do Criador que assim tudo ocorresse.

– De maneira alguma meu caro! O Rebelde se voltou contra seu Criador por vontade própria, por orgulho! Desejando tomar-lhe o lugar.

– Nada disso! Como alguém poderia viver num universo onde só há uma opção? Uma forma de pensar? Um jeito de ser? E se as coisas pudessem ser diferentes? Nenhum ser consciente deveria ser criado sem o direito de escolha. O Rebelde nos mostrou isso.

– Peraí, mas como ele agiu com vontade própria se seu Criador já sabia que o Rebelde se voltaria contra ele desde o começo? Ele não foi destinado a isso?

– Não diga sandices! Como o Criador poderia criar algo que ele mesmo abomina?

– E por que abomina? Mal é questão de perspectiva. Eu entendo que não é o ideal usar uma faca pra cavar um buraco, mas na falta de uma pá, serve! Entendem? As coisas não precisam ser como o Criador designou. Isso não tem necessariamente de ser mal.

– Tem algum sentido. Mas Eu postulo o mesmo que muitos sábios antes de mim disseram: E se o Rebelde tem a missão de ser um contraponto do Criador? Seu opositor por necessidade lógica como uma antítese do divino? Não lhes parece mais razoável, senhores? Afinal, o próprio Criador disse em seus escritos sagrados “Eu crio o mal” embora alguns insistam em interpretar figuradamente.*

– Ora, isso torna o Criador, no mínimo, conivente com o mal… Ou, em última análise, sua causa, afinal foi ele quem concebeu um universo dualista. Por que uma criação dualista no lugar de um universo mecânico e perfeito? Além disso senhores, o mal é MAL pra nós, de formas diferentes mas é: ora como um frango cevado bem criado para um dia ser abatido, ora como um número destituído de valor. Ao contrário do Criador, que é fonte de toda vida, por mais “sensato” que o Rebelde pareça a alguns, o opositor de nosso Criador não nos ama. E, se não deseja nossa aniquilação (como eu e muitos assim pensam, pois o filho do Criador nos mostrou que o Rebelde é nosso inimigo) no mínimo não se importa conosco enquanto seres de valor feitos à imagem de Deus.

– Ok, então o Criador nos ama… Mas é um amor conivente com sofrimentos, solidão, desastres naturais, oportunidades desiguais, guerras, peste… De certo é intrigante… Pra não dizer incompreensível.

– Mas isso se deve à natureza corrompida do ser humano após o pecado.. O mal não era da vontade do Criador!

– Acredito que os senhores estão ignorando alguns pontos: Supostamente o Criador fez tudo BOM e perfeito, no entanto há nisso outro impasse, o de como a perfeição real poderia decair?! O que garante que o Criador não está do lado errado da balança? Dizer que algo é funcional é diferente de dizer que algo é “bom” ou perfeito, logo ele poderia ter escolhido melhor o vocabulário da Escritura. Ele promete recriar tudo perfeito como foi no princípio, mas no princípio houve o pecado. E, como nós bem sabemos, se acontece uma vez pode e vai acontecer de novo.

– Isso é só um problema de terminologia seu…

– Não, não é. Ou as coisas são ou não são. E o que passar disso é de procedência maligna, lembra? Ou estamos entendendo a natureza criada erradamente ou temos um impasse por imprecisão nas escrituras.

– De fato senhores, o que eu e meus colegas argumentamos é: Por que não querem lidar com a hipótese de um Criador de bondade questionável? Afinal ele e seu filho concordam que apenas o Criador é “bom” e todos devem se curvar à sua vontade. Mesmo os seres úteis e produtivos (pra não usar o termo “bom”) devem sofrer punição eterna por discordar do Criador?

– Não meu caro, entenda, o Criador é incorruptível! O pecado é que leva à morte… e todos irão morrer. Porque todos se fizeram resultado da matriz pecadora, portanto pecadores! Logo, todos merecem morrer. E isso resulta das ações do Rebelde que enganou nossos ancestrais.

– Sim! O Rebelde tenta a humanidade e provoca sua queda, afeta sua forma de pensar, seus gostos…

– E ao comprometer nossa matriz, nossos primeiros pais, ele deformou permanentemente todos que viriam depois.

– Isso não responde ao problema de porque ele permitiu o mal em primeiro lugar. Se pensarmos que no bem temos muitas opções de ação de acordo com nossos talentos, porque deveria existir o mal para validar o livre-arbítrio? Posso amar meus pais e discordar deles, morar longe, desenvolver outros interesses. Por que quem não concorda com o Criador está fadado a ser destruído no futuro? Não me parece razoável.

– E parece razoável que seres conscientes sofram pelas ações desencadeadas pelo Rebelde?

– E quanto a Jó? Esquecem os senhores que todas as ações do Rebelde precisam ser autorizadas pelo Criador? Além do mais, se fomos enganados por que deveríamos ser responsabilizados? Isso sim não parece razoável.

O burburinho entre filósofos e teólogos era como o chiado de uma tv antiga mal sintonizada e uma criança resolve parar ante o debate, como o faria quem, na tentativa de sintonizar um desenho animado numa tv antiga, estivesse incomodado pelo som e imagem incompreensíveis, desejoso de ajudar os pensadores nesse tema difícil:

– Oi… Er… Sabem… Eu tava ouvindo a conversa de vocês e acho que posso ajudar…

– Ora, ora! E o que você acha de nossa discussão pequenino? A quem você daria razão em nosso debate? – pergunta o mestre dos especialistas.

– Bom, acho que nenhum de vocês está de todo errado e nem de todo certo. Quer dizer, se o Criador fez tudo é claro que o mal veio de uma de suas criaturas, mas não acho que Criador é mal nem que seja intolerante a quem discorda dele, até porque, como alguém discordante poderia estar certo se dizem que o Criador conhece todos os futuros? Também não acho que o Criador seja responsável pelo mal…

– Aonde quer chegar pequenino?

– É que meu pai trabalha numa fábrica de peças de carros, sabe? E ele diz que, às vezes, mesmo com todos os cuidados, as máquinas criam algumas peças fora do padrão e não se sabe bem como isso acontece.

– …E?

– Então… e se o Criador não tiver conseguido criar algumas coisas perfeitas, por mais bonitas que parecessem ser? E se o Criador usou uma máquina pra criar as coisas e o Rebelde, na verdade, foi uma das peças que saiu com defeito? Meu pai às vezes tenta reaproveitar as peças defeituosas no trabalho dele, sabe? Nem sempre dá certo… Mas às vezes dá pra reciclar.

– E então?

– É que assim, nem seria da vontade do Criador que o Rebelde existisse, nem seria o jeito que ele nos pede pra viver uma imposição da qual ninguém tivesse liberdade de escolha. A gente tem um motivo de ser, ou até mais de um. Já vi peças que podiam ser usadas em partes diferentes do carro, sabe? Acho que o Rebelde só existe porque, mesmo defeituoso, o Criador respeita a liberdade dele também …mesmo que ele e algumas outras peças não tenham conserto e acabem estragando o funcionamento das máquinas onde são postos… Acho que o Criador tolera o Rebelde porque sabe que algumas, mas nem todas, as peças que saem com defeito ainda podem ser aproveitadas.

– Hahahahaha! – riem os especialistas.

– Muito divertido pequenino!

– Acho melhor deixar isso pros adultos resolverem, criança.

– Olha só, aqui tem R$ 1,50. Vá comprar um picolé.

– Picolé?! Mas eu falo sério moço, se não foi assim e o Rebelde é mau e o Criador é bom, mas usa o Rebelde pra nos dar livre escolha e as pessoas tiveram seus ancestrais corrompidos voluntariamente e, por isso, seus descendentes merecem sofrer, quando o Criador prefere doar seu bem mais precioso por nós ele não está sendo bom nem justo, só está sendo emotivo! Se as pessoas estão estragadas e ou merecem morrer ou se esse é o procedimento padrão do Criador pra peças com defeito, então… porque discordar do Rebelde? Ele não estaria fazendo a vontade primeira do Criador? Ou o Criador está confuso por causa de seus sentimentos então?

– Garoto, você nunca leu que é o coração do homem que é enganoso e não o do Criador?

– Mas o garoto tem razão. O Criador parece estar agindo com a emoção apenas e o Rebelde com a razão.

– Não, não! É exatamente o contrário meu caro! As pessoas são más e merecem castigo do Criador por sua natureza pecaminosa! O Criador é perfeitamente coerente.

– Não entendem? – disse o menino – Nunca conheceram nenhuma pessoa que foi boa pra vocês? Não acho que todos merecem sofrer e morrer, apesar de todos cometermos erros, não temos controle sempre das circunstâncias, do que os outros pensam, ou mesmo de nossas vontades. Somos só peças com defeito esperando reparo. Acho que o Criador também pensa assim… Ele consertaria até o Rebelde se pudesse mas não pode!

– Quanta imaginação! Não sabe você que o Criador tudo pode menino?

– Então poderia ter nos dado livre-arbítrio sem necessidade de um rebelde. Deixe o menino falar…

– Mas o menininho diz que o Criador foi “emotivo” e que para ele nós somos peças apenas! Isso é inaceitável!

– Não fui eu quem disse que o Criador está sendo emotivo. É o jeito que vocês estão colocando a situação… – disse o menino. Sabe, acho que tanto pro Criador como para o Rebelde somos apenas peças. Só que o Rebelde quer inutilizar tudo que tiver defeito e o Criador quer reaproveitar o que der pra reaproveitar. Não tem nada a ver com razão nem emoção. Nós somos coisas pra eles… Mas o Criador gerencia com sustentabilidade.

Então, o mestre dos especialistas se levanta para dar fim ao falatório, afinal, como poderia haver religião sem consenso?

– Calem-se todos! – diz o mestre dos especialistas – Ora, que falatório! O que sabemos com certeza é que o Criador é totalmente justo, mas criou o Rebelde, todavia não aprova suas ações, mas as permite ainda que as abomine. O Rebelde desafiou o Criador e o Criador consentiu com o desafio. Aquele que é tocado pelo pecado do Rebelde deve morrer – o próprio Rebelde o requer, pois essas são as regras do universo do Criador, a quem o Rebelde desobedece, apesar de ser usado para castigar e só poder agir quando o Criador o consente. Longe do Criador a vida é impossível. Entretanto o Rebelde vive pois traga a vida que o Criador pôs em sua criação ao trazer a criação à morte. Mas o Criador, ao pagar o preço por nós com a morte de seu bem mais precioso há de nos livrar da consequência natural do pecado que é o dano da segunda morte e há de recriar a vida destruída em perfeição segunda vez tal qual no princípio!

– Sim, sim! Está certo! – e os especialistas aplaudem de pé!

– Mas moço – diz o pequeno menino enquanto os adultos se levantavam para dar o debate por encerrado. – se for assim, o Criador é injusto por quebrar suas próprias regras sem necessidade e o Rebelde é inocente de seus atos pois pune as pessoas segundo as regras do Criador! Isso não pode estar certo!

…Mas não havia mais ninguém para ouvir o menino. E a questão findou por aí.

Vida Real e Tempos Difíceis

claro q vc fraga

Ultimamente não sei mais o que é real e o que é realidade… Esses dias mesmo comecei a questionar se bundas realmente existem ou são apenas o encontro das pernas com o quadril.

Saudades de quando o universo fazia sentido, féi… De quando as coisas não eram apenas aquilo que parecem, mas algo mais além do que seriam se não fossem exatamente o que são…

Por exemplo, do tempo em que gônadas eram apenas pequenas embarcações em Veneza que jamais te provocariam uma DST na garganta caso você fosse pescar sem preservativos. Do tempo que as histórias ainda começavam com “era uma vez, num lugarzinho no meio do nádegas, com sabor de chocolate, seios de terra molhada”…

E a vida se desgastava à medida que se enGOLIAS a si mesmo sempre que uma pedra ungida por Deus lhe acertasse a fresta entre o capacete e seu nervo ulnar mutante que desligava seu tronco encefálico ao alisar sua linda testa cheia de feridas causadas por lepra purulenta… Do tempo que Satanás não passava de uma cobra que podia ser facilmente apreendida pela carrocinha ligando para o controle de zoonoses…

Eram tempos difíceis, mas traziam consigo a monotonia de muitas cores e sons cuidadosamente interpretados como sendo a mesma coisa por mentes bífidas que destruíam a seu próprio “eu” em nome de um bem maior que na verdade… nem valia à pena. Sim, eram tempos difíceis, mas pelo menos nós tínhamos braços e não estávamos presos a uma máquina que diz aos nossos cérebros como é a realidade.

Ce fraga anatomia, féi? É muito fácil: anatomia é quem faz miau!

Morro de saudades daquele tempo, féi? Você não?

Jim E Seu Brinco Maravilhoso

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“Outro dia qualquer o século XXII ainda vai cair em pedaços” era o que Jim pensava enquanto assistia o noticiário no café da manhã antes de se apresentar na sessão aberta de prestação de contas da Câmara de Vereadores de sua cidade após o incidente dos soterramentos em massa.

Como coisas estranhas andavam acontecendo com o clima desde que os pólos derreteram e 6 dos 12 maiores vulcões do planeta despertaram com grande atividade. Os tempos eram estranhos e a própria Câmara de Vereadores havia sido soterrada de modo que a reunião aconteceria na própria Prefeitura.

“Nada poderia ser pior pra começar o dia”, imaginava Jim, um jovem aficionado por histórias em quadrinhos ainda com devaneios de dias de aventura em plenos 19 anos de idade.

– Jim, ou você entra nesse carro ou esquece a carona! Eu tenho horário! – gritava Arnaldo Oswald, seu pai, enquanto o sonhador enfiava uma última colherada de cuzcuz goela abaixo, já de pé, enquanto desligava a TV e correr para o carro voador de seu pai.

-Você tá em cima da hora de novo… – disse Heloísa quando Jim chegou ao trabalho – mas eu nem sei porque me dou ao trabalho de te avisar. Pega o celutablet e grava o que der da reunião, ok?

Nota:  *Celutablet é aparelho dobrável que substituiu tablets e celulares em 2089,  inventado por Eustáquio de Coimbra, Ibipitanguense que herdou a Microsoft após descobrir que o bisavô de Bill Gates havia andado de putaria em SP com uma futura ex-prostituta Ibipitanguense que viria fugida reencontrar seus familiares, que a renegaram, o que fadou apobre alma a se reproduzir em troca de incentivos monetários na antiga “rua do Articum”. Sendo o único elo familiar de Bill Gates e bisneto de um dos poucos retirantes nordestinos sobreviventes do massacre ocorrido na grande “Batalha da Anhanguera”, de 2026, pouco antes da destruição de Arujá por uma bomba nuclear, conforme está escrito no livro das Crônicas Nordestinas do Google. Para maiores informações, pesquise no banco de dados do Google pelos Verbetes: “Cristiano e a Profetiza de Arujá”.

Heloísa, da mesma idade que Jim, estava trabalhando há apenas 3 meses na prefeitura, mas tinha um modo muito profissional d lidar até com funções bobas do dia-a-dia. Mas Jim mal conseguia prestar atenção no que ela dizia por conta do tamanho do decote que ela usava enquanto pensava se era possível fabricar roupas que disfarçassem o volume ostentado por Heloísa, sem saber ao certo se isso seria boa ou má ideia, mas tendo convicção de que trabalharia melhor sem certas distrações.

-Digníssimos representantes dessa casa, a razão de nossa presente reunião aberta a público terá por pauta a prestação de contas do exercício dos meses de janeiro a abril, bem como a votação do local para a construção da nova Câmara de Vereadores, haja vista que o local da antiga se encontra em estado impróprio para construções após avaliação dos engenheiros da prefeitura – disse o Presidente da Câmara.

O fato é que, após as inundações (que tomaram 30% das áreas baixas e planícies do globo em grandes lagos salobros, alguns dos quais imundos inclusive, reflexos da poluição do século anterior) as zonas mais altas se tornaram as únicas disponíveis para moradia, mas os pobres viviam em regiões intermediárias, sempre sujeitas a deslizamentos do que quer que estivesse em cima. Por alguma razão desconhecida, todo o solo do planeta adquiriu uma consistência arenosa difícil de estabilizar e deslizamentos de construções verticais eram constantes. Tão constantes que estavam em desuso. As remanescentes era patrimônios histórico que eram constantemente tombados… Literalmente.

– Ninguém se mexe! – gritava um oficial da milícia civil, entidade que substituiu a polícia militar após a terceira guerra mundial. Senhores Manfred Pereira, o Roberto Guedes, o Antony Hernandez e o Fernando Bastos Schneider, os senhores estão presos por desviar verba pública para uso pessoal!

– O quê?! Como assim? – essa era a única reação dos pederastas surpresos com a dificuldade de fraudar a prestação de contas no governo Google.

– Olha que esse trabalho tá ficando cada vez melhor! Dá um close no pessoal da milícia Jim, tenho uma colega que vai adorar postar isso no blog de notícias do Olho Urbano.

Jim fazia sinal de “positivo” com a mão enquanto Mauro Pacheco, tesoureiro, tentava sair com um sorriso maroto disfarçando uma ida ao banheiro quando 2 integrantes da milícia civil saltam sobre ele algemando-o e lendo seus direitos.

– Jim, fala pra esses caras me soltarem véio, teu pagamento sempre caía em dia desde de quando você tava nos serviços gerais ano passado!

– Vai se ferrar Mauro! Dizia Jim ao ver Mauro ser levado algemado escadaria abaixo enquanto preparava uma bela cusparada para acertar na nuca do ex-tesoureiro quando descessem o terceiro lance de escadas.

– Diante da presente situação, declaro que o PL.com venceu a decisão do local e suas empresas associadas têm preferência na escolha da empresa que receberá a licitação para a construção da nova câmara de vereadores. – dizia o Presidente da Câmara com voz robótica e monótona.

– Uma pena. Agora que o pessoal do PL.com ganharam acho q é adeus à biblioteca da prefeitura.

***De fato, no século XXII papel era algo dispensável e certas formas de arte desligadas da informática não eram muito valorizadas. A prefeitura de Capitol City tinha uma das maiores bibliotecas de gibis do mundo.

– Puta merda véio! O que você acha que eles vão fazer com os gibis, Helô?

– Eu te aviso quando souber. Também tem alguns que eu queria levar pra casa, a saga de apocalipse, os do Thor e dos Vingadores. Sabia que o gibi era diferente dos filmes do século passado?

– Sei sim. Vou fazer o upload da filmagem pra nuvem e você pode enviar pra sua amiga do blog de notícias.

O celutablet dobrável de Jim vibra com uma mensagem na tela. Ele mesmo deveria ajudar a limpar a poeira dos gibis da biblioteca e separar o que iria pra venda de quintal da prefeitura e o que ele e Heloísa levariam pra seu próprio entretenimento.

– Perfeito! – pensou Jim.

– Pessoas levando gibis embora da prefeitura… Fico pensando se alguém algum dia sonhou que o Google se tornaria o governo digital unificado de todo mundo ocidental e que prefeituras seriam governadas por sistemas de computador, ou reuniões de vereadores seriam presididas por droides e que bibliotecas seriam entulhadas de gibis cheios de poeira. Graças a Deus acharam a cura pra rinite ou a gente ia morrer nesse pó.

– Caraaaaca véio! Wolverine em fotonovela, a saga do Japão!

– E garotas com peitos transgênicos de fora.

– Ah… isso é detalhe… o legal é a história. E você sabe que peitos transgênicos são decisão dos pais e não das garotas.

– Homem é tudo igual mesmo… Vem cá, isso é telenovela ou pintura a óleo? parece realista mas não tanto.

– Ei Jim! Helô! Blz?

– Oi Ed! Veio catar gibis? Achei a telenovela do Wolverine man!

– Cara, quantas vezes eu tenho que dizer que não é telenovela, é graffic novel!

– Ah, que seja. Acho que tem um brinde, tem um saquinho tipo card aqui dentro.

– Deixa eu ver?

– Não, nem vem. Você já pegou os gibis do Thor!

– Nossa Jim, é só um brinde de gibi, não é um anel mágico como do Lanterna Verde.

TUDURUDU! Soa um celutablet com o último informe do dia: O castelo de Walt Disney e o Taj Majal desabaram produzindo uma nuvem de poeira tóxica, portanto cubra boca e nariz com toalha ao sair.

– Desabamento de novo? – disse Jim.

– A gente vai sair igual os caras do Faith No More na turnê de 2016, lembram? Tem o vídeo no youtube do show em Madri. Poeirada do caramba! Super momento histórico.

– É, Mike Patton arrasou… até terem que deixar a cidade.

UOooOoOoOoOh!

– Alerta de tremor! – disseram os 3 amigos em uníssono.

Embora o sistema do Google houvesse previsto o tremor, incidentes pequenos não eram mais informados. No meio da sujeira de uma parede que caiu, Jim encontra seu segundo brinde do dia.

– Tá todo mundo bem? Perguntou Heloísa.

– Meu, acho que hoje é meu dia de tremor da sorte! Olha meu novo achado!

– O brinco de wormwood. Que droga é essa?

– Sei lá, mas é MEU! HAHAHA!

Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep! Beep!

 

– Merda! Perdi o horário! Vou me atrasar pro trabalho! Maldita função soneca!

De fato Jim saiu tão apressado para o trabalho que não notou ter vestido uma das calças esportivas de seu pai, um tanto quanto largas para ele, de modo que exponha grande parte de sua underwear (todos os nomes constrangedores foram substituídos por estrangeirismos americanos logo após a dissolução dos EUA em 37 países distintos).

– Onde diabos você estava? Eu tive que ficar no seu lugar pra registrar o vídeo da reunião e encriptar pros engraçadinhos do Mefisto.com não fazerem montagens com chifrinhos e bigodes da assembléia!

– Foi mal Helô…

– Ah, esquece… Faz o seguinte, por hoje você fica no meu lugar no digitalização de registros públicos.

– Tá, me empresta seu cartão pra eu ter acesso.

– Toma. Mas vai logo! Tenho pilhas de coisas pra escanear paradas por causa do seu atraso.

15 minutos depois Jim se questiona como Heloísa conseguia manter um ritmo constante de digitalização com o celutablet do trabalho e ainda haver tantas pilhas de papel. Ela foi “funcionária do mês” todos os 3 meses desde que Jim começara naquele emprego e ainda havia montanhas de documentos, licitações, registros de trabalho e informes de rendimento retroativos que precisavam ser lançados manualmente no sistema. Era assim que, volta e meia, eram descobertas as falcatruas do “elemento humano” dos governos. Jim resolve que precisava tomar ciência do estado de seu visual no banheiro.

– Caracas, tô com uma cara péssima. Vou lavar o rosto, ajeitar essa roupa, por a camisa pra dentro da calça (espero que ninguém tenha visto meu underwear…), ah e esse tal brinco de wormwood é bem estiloso, acho que vou colocar essa bodega pra dar mais um ar de autoridade.

Obs.: No século XXII brincos são interfaces de comunicação sofisticadas via satélite instantaneamente plugadas a celutablets, macs, gps e redes sociais. Além de fazer com que você fique com ares de pirata mouro, se é que já houve algum mouro pirata…

Jim entra no banheiro feminino da repartição porque o masculino havia tido a privada detonada por uma bombinha posta por um estudante numa visita escolar ao local. De qualquer forma, a única mulher que trabalhava no setor de informática da prefeitura era Heloísa.

– Véio, como é que coloca esse troço? Ah, saquei! Isso solta e aí ele abre! Show!

Jim coloca o brinco de wormwood sem saber que se tratava de um anel dos extintos nibelungos com o poder de alterar a forma de seu corpo e lhe dando habilidades sobre-humanas!

O que não agradou muito Jim ao perceber que o anel lhe tornava o que pensasse no justo momento em que olhou para suas orelhas e lembrou dos lóbulos de seu avô.

– Volta ao normal anda! Volta! Ah, tô pegando o jeito! Eu bem que podia sair por aí e virar um super-herói com um negócio desses, como o ciborgue  dos Jovens Titãs… (não, não fiquei negão o suficiente), ou o Flash! Hahaha, tô igualzinho!

– Jim! Já voltei. Preciso do meu cartão. Você não entrou no banheiro feminino de novo não, né?

– Hã… Talvez?

Corte pro noticiário da noite:

– “Estranhos incidentes envolvendo jovens traficantes dependurados de ponta a cabeça em prédios e amarrados com fechos de plástico em becos escuros tem surpreendido a polícia que suspeita da ação de vigilantes…”

– Ei Jim, já pensou se esse cara é o responsável pelo sumiço dos fechos da prefeitura? Ele ia levar um sermão da Helô sobre responsabilidade! Hahahaha!

– Hein? Ah, foi mal eu não prestei muita atenção.

– Se liga velho, a gente vai pegar os skates, segue até a casa da Judith e vamos no furgão do Pietro até o show do Shadow Blade. Vai ser demais!

– Olha aqui vocês dois, 2h da manhã é o limite, eu não quero saber de desculpas.

– Falou dona Cláudia… Simbora Jim!

– Tchau mãe…

– 2h da manhã menino!

– Tá, tá, tá bom mãe, nojeira!

Com a saída de Jim e Ed, dona Cláudia nota que as notas de Jim tem caído, seus olhos andam sempre vermelhos e ele não parece estar dormindo muito bem, além se estar tendo aumento do apetite enquanto emagrece e resolve ligar pro pai do garoto, sentindo a ironia que era fazê-lo após ter dito na audiência de divórcio que jamais iria querer ouvir a voz daquele “desgraçado de uma figa” outra vez.

– É sério Arnaldo! Você precisa conversar com esse garoto! Arnaldo, ele pode estar usando drogas!

– O Jim usando drogas? Não seja histérica mulher! Tá mais é mais provável Jim ter encontrado um artefato místico-tecnológico que lhe dê super-poderes…

As Viagens Interdimensionais de Johnny B. Goode – Episódio 01

aliens

Eu estava de férias no Rio de Janeiro e, como todo bom turista, queria ver o Cristo Redentor, mas a cidade já não era a mesma: estava parcialmente alagada e novas construções hi-tech se projetavam às alturas contra a lei da gravidade. Entre elas havia várias jacuzzis no formato de cuias com um acabamento que fazia pensar se não seriam 3 cuias, uma dentro da outra, todas flutuando no ar, bem acima do Cristo.

Como se já não fosse estranho o suficiente, havia um grande totem erigido de modo a ultrapassar o Cristo Redentor em altura, com vários jardins suspensos sobre ele.

“É um péssimo momento pra enfrentar meu medo de altura”, pensei. Mesmo assim, eu e mais um casal de turistas, entramos na fila para o banho de jacuzzi, que era uma atração muito popular entre os turistas.

Ao entrarmos, houve um problema com o sistema eletromagnético de suspensão, de modo que fomos arremessados, os 3, pra fora da piscina numa velocidade absurdamente alta. Enquanto senti a queda, só me restou pensar: “Pronto, tô morto”. Eu via o Totem e o Cristo enquanto a vertical da morte nos aproximava do chão, mas caímos os 3 numa das zonas alagadas da cidade. Estávamos vivos! …Mas perdi minha mochila.

A medida que a onda de choque passava, involuntária e automaticamente, fomos lançados para uma das zonas de comércio, parcialmente alagadas do RJ. Sem camisa, perdido na queda, fui tentar entender onde estava quando, de repente, um movimento popular de revoltosos surge do nada! Consigo arranjar um colete de couro e, quando me olho no espelho, estou com cabelos lisos caindo sobre as sobrancelhas, e uma barba digna de um profeta bíblico… Sou arremessado pela segunda onda de manifestantes (que destruía tudo por onde passava) contra um outdoor e busco refúgio dentro de um ônibus interestadual (que parecia ser da Transdutra) que se dirigia para Curitiba. Depois da viagem, descubro 2 de minhas ex-colegas de faculdade dentro do ônibus. Conversamos e descemos onde deveria ser a rua 15 de Novembro (que nem é tão perto da rodoviária) e a rua estava em movimento de pico por conta de uma feira que estava acontecendo ali (mas a rua parecia mais a praça da feira de Ibipitanga-BA, por alguma razão inexplicável). Me despeço de minhas colegas e decido procurar minha mochila e meu laptop nos sites de “achados e perdidos”, quando uma onda catastrófica de inundações e deslizamentos de terra assolam todos os pontos secos do mundo.

Perco parte da memória e, dias depois, me vejo num abrigo próximo a uma floresta num local desconhecido. Estou desnutrido e quero água. Mas há 16 formas de água e nem todas se podem beber…

Converso com a líder do acampamento… Era a mesma líder dos manifestantes do RJ. E tinha certo zelo pela vida humana, mas agia como uma chefe de gangue, devido a sua ideologia política de esquerda, e não aceitava questionamentos.

Uma criança, que ouviu minha conversa com a líder, fica estranhamente interessada em minha mochila, como se meu laptop fosse a chave para se comunicar com os aliens e se ver livre desse planeta destinado à morte. Mas todos sabemos que os aliens só resgatarão uma única pessoa… eles mesmos já disseram no jornal.

Mas a menina tinha tendências sociopáticas e era extremamente inteligente. Eu descubro, por comentários de meninos xucros que estavam passeando na floresta, a descrição de um objeto que tinha que ser minha mochila, mas estava com muita sede para ir ao local e olho os 16 exemplares de água que os manifestantes colheram para análise.

“Dessa você pode beber!” – disse a menina com um sorriso diabólico. Como era um sinal de desrespeito aos manifestantes desconsiderar seus comentários, por mais crianças que fossem, resolvi beber (afinal, estava doido de sede). Não sabia o que significava o rótulo. “Água ébria”… Nunca vou me esquecer dessas palavras. A garota ri e ruma para pegar minha mochila, ao que a líder entra na sala e me diz: “Você tomou a água ébria? Ficou louco? Ela vai desidratar todo o seu organismo! Não é para beber, é para matar! Como penitência, você deverá correr até o Cristo e retornar. Talvez o calor possa fazê-la evaporar de dentro de você pra fora. Mas você só tem 5 minutos. É sua punição eterna!”

Eu obedeço imaginando se essa mulher não estaria louca, mas me sinto ressecado por dentro e corro com uma energia que não parecia se esgotar. O Cristo redentor não estava a mais de 2 ou 3 quilômetros de onde estávamos e podia ser visto no horizonte de uma ladeira. Estava torto e não havia água perto. Também não me dizia nada sobre minha localização, já que muitos monumentos pareciam fora de seu devido lugar depois do desastre, pelo que me disseram…

Enquanto corro a estrada de volta avisto uma improvável zona de comércio onde havia amendoins japoneses salgados e resolvo comer para morrer feliz. Também havia pães de queijo, mas a velocidade estava fazendo minhas partículas vibrarem tão rapidamente que eu atravessava dimensões. Resultado: Acabei retornando a Guarulhos, num mercado do Carmela onde ainda havia amendoins japoneses, mas pães de queijo não mais existiam em parte alguma…

Para Willie Nelson

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Willie, o homem vestido de castor (que na verdade era um macaco alado da bruxa do oeste) caminhava alegremente pela estrada de tijolos amarelos que o conduzia de sua casa de madeira submersa até a floresta de sequoias verdejantes do velho oeste quando avista, ainda ao longe, a meros 5 metros de distância, aquele lugar – que outrora fora um museu de épicas conquistas de grandes nomes de um passado distante – em que se lia na placa de entrada: “Monumento ao fundador do Gran Canyon”.

O prédio, de apenas 1 andar térreo, aparentava mais ser uma casa de adobe condenada pela defesa civil, tendo perdido todo o glamour suntuoso lembrado na infância de Willie que agora, com um lágrima vertida do mais profundo de seu coração emergindo sabe-lá por quais vias biológicas por seu olho esquerdo, disse a si mesmo a máxima que esperava ser a última de sua existência:

“Não quero viver num mundo onde não exista um monumento ao fundador do Gran Canyon!”

Correndo com um misto de euforia e miséria, Willie, o homem vestido de castor (que na verdade era um macaco alado), encontra uma alavanca que resolveria todos os seus problemas! Mentalmente, Willie vira a alavanca, já do lado de dentro do prédio condenado, esperando unir-se a eterna escuridão que viria após a explosão do monumento decadente.

…Mas, para a surpresa de Willie, tudo naquele lugar explodiu… menos ele.

Fim

Platão com Metralhadoras

Obs.: O texto abaixo foi extraído de uma comunidade do (extinto?) orkut de autor desconhecido.

Platão com metralhadoras

Grande impasse existia na Grécia antiga. O Mundo da Filosofia estava no limbo, perdido vagava ao futuro, sem rumo e em direção ao especulativo. Sofistas, cegos pela arrogância, pregavam e debatiam desordenadamente.

A falta de um planejamento estratégico gerava a inércia das ações dos pensadores. Vanguardistas e Conservadores patinavam nas trilhas do conhecimento.

No meio de toda essa, porque não dizer, joça, eis que surge Platão com metralhadoras, e apresenta então para a Cultura helênica, a FILOSOFIA DE GUERRILHA. Capaz de driblar as altas barreiras de entrada da consciência humana com discursos ora retóricos, ora analíticos, mas sempre baseados na autoridade e no apelo popular.

A dialética platônica teve então grande penetração, disseminando o saber sofístico, desta vez, de maneira ordenada, dando assim origem ao Pensamento Moderno Ocidental.