Quando Asimov e Alzheimer se Encontram

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Sabe aqueles dias terríveis que você simplesmente chega em casa pregado de cansaço esperando a morte chegar simplesmente por não ter nada melhor com uma dor de cabeça dos diabos e tudo que seu corpo pede é cama?

Também pudera. Você escolhe uma droga de profissão e tem que continuar com ela até que a morte os repare pensando em todas as possibilidades q vc poderia ter escolhido pra sua vida e imaginando como todas elas terminariam num invariável fracasso. Então você se deita com o ventilador ligado esperando que as trevas de um fechar de olhos levem embora as lembranças de sua vida diúrna e não sonha com coisa alguma de tanto cansaço apenas pra perceber que você acaba de ser lançado 30 anos no futuro por uma singularidade quântica, que você agora está velho com a morte às portas aguardando teu último peido ardido enquanto você se levanta esfomeado pra descobrir que sua esposa que você nem ao menos conhecia antes de dormir fez bolo de milho e café fresco e foi fazer a feira da semana porque sua maldita hérnia dói como os inferno e os pássaros começam a cantar uma canção que lembra outros mundos quando você ainda habitava um planetinha chamado Terra num buraco de esgoto qualquer da via láctea e descobre que em realidade seus melhores 5 minutos por lá foram exatamente os que antecederam seu misterioso desaparecimento deixando seus amigos enlutados, seu chefe puto e meia dúzia de boletos por pagar, não necessariamente na mesma ordem já que demorou cerca de 4 dias pra as pessoas se tocarem que você tinha evaporado pra lugar nenhum, onde de fato agora você está, sem se lembrar de droga nenhuma dos últimos 30 anos exceto de quando você foi se deitar com as têmporas ardendo e acordou numa realidade alternativa 735,4268 parsecs na extremidade oposta do cosmos para comer bolo com café ouvindo pássaros cantarem uma música do Mudvayne que creio se chamar “Adeus” sabendo que você tem ao lado uma pessoa que te ama, mas que você não sabe quem é porque não se lembra de mais da metade de sua vida, mas que foi na feira em seu lugar e continua contigo mesmo você mal se lembrando o nome dela e de seus 4 filhos e ainda faz bolo de milho com café pra que você tome ao acordar tendo deixado pra trás seu planetóide de 4 dimensões por algo maior com céu mais laranja que o cabelo da Hayley Williams, árvores de copas de um azul gentil, pássaros que gorgeiam Mudvayne e bolo amarelo macio com café novo. Nesses momentos você sabe que sua vida valeu à pena, então, por mim tudo bem se meu mundo está do outro lado do espaço e eu mal me lembro o meu ou o teu nome. Ah! Chegou alguém em casa. Tenho que ir lá dizer que a amo. A propósito, quer um pouco de bolo de milho com café? Tá uma delícia!

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Alquimia Mamária

xananaá-nana-nááá (vai-vai-vai-vai)

“Coitada! Era apenas uma vendedora de cocada!”, diriam as pessoas dali em diante. E era verdade. Tanto alarde por um feitiçozinho de merda à toa… Mas enfim.

A dona não vendia só cocadas, tinha outra barraca  a 50m da primeira, onde vendia  pregos e parafusos. São tempos difíceis para todos e eu havia prometido não usar meus poderes em benefício próprio. Teria que arrumar emprego depois de uma recessão pessoal de 4 meses parado… E nada de alquimia!
Como o mercado de trabalho anda difícil e são poucas as oportunidades pra quem não terminou o ensino superior, em 1 semana,  roubei da referida dona 2 cocadas.
Era todo o dia  a mesma ladainha: acordar, levar currículos em buracos do inferno, falar com algumas selecionadoras de RH com QI de calço de porta, ver meus e-mails e fazer o caminho de volta pra casa pela feirinha. Até aí tudo bem, até quarta-feira passada.
Exausto e morto de fome, passei pela barraca da dona Ednaide e  eu a cumprimentei com um “oi”. Perguntei da família e disfarcei enquanto levava uma das últimas 3 cocadas escuras, como já era tarde, achei que ela não repararia, ela própria comia algumas no decorrer do dia pelo cansaço, até que o sobrinho de 11 anos a substituisse para a pausa do almoço. Não era má pessoa a dona Ednaide, mas quando se tratava de grana a mulher se tornava num verdadeiro demônio!
Na sexta-feira eu estava bem pior, a fadiga e o mau humor depois de alguns “nãos” de estagiárias de psicologia retardadas não contribuiu muito para aguçar minha coordenação motora. Eu estava hipoglicêmico. Não sei mais porque diabos não simplesmente tranformei aqueles funcionários engomadinhos e seus chefes idiotas em pedra enquanto tive a chance… Droga de promessa! Uma garota aparece na sua vida, descobre que você vem de uma linhagem de  alquimistas com poder de transmutar a matéria e ela encarna o “tio Ben” dizendo que “com grandes poderes vem grandes responsabilidades” e que eu “não devia usar isso para benefício próprio”. Um ano e meio depois de me obrigar a fazer essa promessa idiota  ela desaparece da cidade porque “não tava pronta pra um relacionamento mais sério” e precisava “mudar de ares”. Enfiei o anel de noivado, parcelado em 12 vezes no cartão de crédito, numa gaveta ao invés de mandá-la tragá-lo goela abaixo. Já se passaram mais 8 meses e mal nos vemos e eu ainda com aquela velha esperança de que ela me escolha, assim como eu a escolhi. “Hope is a bitch!” …ouvi algo assim no CSI, acho que se aplica aqui.
Maldição! Me perdi em devaneios! Bem, a idéia era de eu contar o que aconteceu na sexta-feira passada e não fazer um resumo da minha vida… Depois de todos os infortúnios, fui para casa, atravessando a feirinha  e, dessa vez, dona Ednaide estava de costas. O dia parecia ter sido devagar e havia umas 5 cocadas expostas – achei que iria ser fácil pegar e sair sem ser notado e me descuidei tremendo de hipoglicemia. Derrubei um dos porta-guardanapos. Dona Ednaide  se virou com a velocidade de um demônio velho e me algemou à sua barraca.
– Aha! Engraçadinho! Banca o amistoso, esforçado, pergunta da minha família, mas você vem aqui pra tirar o meu lucro, não é? Você acha justo pegar o que não lhe pertence, seu ladrãozinho?
– Mas é comida, os tempos estão difíceis, não estão empregando qualquer pessoa dona Ednaide. Se quiser, posso lhe pagar assim que conseguir um pé-de-meia, juro!
– Acha que eu sou besta de confiar em ladrão? Meu sobrinho vinha me ajudar na quarta-feira à tarde a desarmar a barraca e o que ele viu? Um marmanjo velho roubando cocada! Você desequilibrou meu Feng Shuei com suas mãos imundas de ladrão e nessa quinta e sexta só vendi metade do que de costume! Você vai se ver com o delegado, espere só eu achar meu celular!
E continuava bradando impropérios dizendo que eu ia pagar por ser descarado. Feng Shuei… Bom tem maluco pra tudo. Um dos irmãos de dona Ednaide tinha se casado con uma japonesa de nome Sakura sabe-Deus-o-quê (nunca fui bom em guardar nomes orientais). De fato Sakura ficou tão amiga de sua cunhada que a infectou com suas supertições. Acho que as pessoas tendem a acreditar em energias místicas e magias porque não estão cientes de como decompôr e recompôr a matéria. Meus avós me ensinaram bem a Alquimia, está mais pra ciência do que magia na verdade. 13 gerações e justo na minha vez meus pais estão tão ocupados com seu status social na liderança da firma de advocacia que meus avós tiveram que me ensinar. Meus avós sempre gostaram de mim e me ensinaram bem, mas havia certa vergonha nisso. Era pra ser uma coisa de pais e filhos…
Que diabos! Lá vou eu me lançando em reminescências… Voltando à  cena da dona Ednaide. Eu disse mais uma vez que  pagaria os 2 reais das duas cocadas, mas a mulher estava me cobrando 20 reais sob a justificativa que sendo 10 vezes mais caro eu estaria pagando pelo dano moral  de ter lhe roubado as cocadas na maior cara de pau, já que éramos conhecidos. Eu enfio a mão esquerda pelos  bolsos e acho R$ 2,45 (3 moedas de 25 e todo o resto de 10 centavos), um refil de amostra grátis de perfume com uma meleca marrom dentro que parecia caramelo derretido, 1 clips de papel grande, poeira e um monte de pequenos botões que não sei como diabos foram parar ali!
Tento pagar dona Ednaide, mas a mulher, insistente, berrava  que eu ainda lhe devia (uma moto passa pela rua e se intromete no meu sonho ao passo que rolo de uma vez pra direita e encosto num bolinho amassado do Edredon e penso: Ai meu Deus! Um dos peitos da Ednaide veio parar aqui!). Ao retomar o sonho  eu havia jogado uma praga na vendedora,  que agora tinha apenas 1 seio  e gritava desesperada. Não foi bem uma praga.  Usei um pouco de pirotecnia, fiz meus olhos ficarem amarelos fosforescentes e algumas pedras virarem vidro só de sacanagem. Separei o seio do corpo e transmutei o tecido que deveria inflamar em pele viva. Nada de dor na dona e o danado do peito continuava vivo, mas em meu poder. Nem me lembro bem do que eu disse…  Deve ter sido algo como: “Hostes da escuridão, apartai dessa mulher aquilo que lhe traz satisfação!” rima mais piegas só em gibi do Thor. De fato dona Ednaide atrai alguns fregueses com outro tipo de cocada… Mulher ainda jovem, o viço que a natureza lhe preservava, Satan lhe assegurava a avareza em igual proporção.
Voltando pra casa,  eu não tinha a menor idéia do que fazer com aquele montinho circular que parecia uma peteca na minha mão. Fui pra minha biblioteca pessoal, que comecei a montar com tudo que lia desde os 9 anos. Folheando um livro didático de educação física da 5.ª série (que peguei não entendo por qual motivo) vi uma foto de um jogo de peteca, mas a peteca havia se tornado no seio roubado em minha imaginação. Ri tanto que provavelmente fui feliz para sempre até acordar para registrar esse texto e voltar a dormir!
Minha cabeça me prega peças enquanto durmo. Definitivamente há meios melhores de usar a alquimia no mundo dos sonhos…

Tarzan das Ovelhas!

Tarzan das Ovelhas corria alegremente pelas ondulações das planícies* morro abaixo, com suas roupas em farrapos e seu black power monstruosamente coberto de poeira, em sapatos deslizantes, sob os quais percorria, em passos de quadrúpede, grandes distâncias entre os campos e as pradarias do Morro da Onça, num ângulo de 90 graus celcius, de onde pastoreava as ovelhas, que outrora o criaram, e seus descendentes, com os quais cursara o Ensino Fundamental.

Em um momento de lazer, Tarzan das Ovelhas se recreava deslizando morro abaixo enquanto suas irmãs ovelhas pastavam próximas ao rio. Naquele dia em especial, Tarzan das Ovelhas se sentia deslocado… Em diversos ossos por conta de uma queda de 5 metros da qual rolara em direção a uma rocha sedimentar milimetricamente disposta de modo a lhe proporcionar a mais crocante emoção em sua futura hérnia de disco 10 anos no futuro.

Mal sabia Tarzan das Ovelhas que haveria hoje de se tornar um homem. Derrapando devagar por entre as pedras para próximo de seu rebanho, ouvira passos que se aproximavam a galope rasante trazendo em seus cascos o terror da meia-noite. Sim, era o Boi-da-Cara-Preta que se aproximava.

Tarzan das Ovelhas era o único obstáculo, na estreita e íngreme passagem, que separava seu rebanho amado de seu cruel destino entre as afiadas presas do boi da cara preta. Como salvar seu amado rebanho? O rebanho que o acolhera quando bebê no dia em que fora abandonado por seus pais, que tiveram a audácia de morrer num acidente de carroça causado pelo excesso de álcool em um grande precipício próximo, deixando o pequeno Tarzan à própria sorte.

Em um ato de desespero, Tarzan das ovelhas avança em direção ao boi assassino e, segundos antes do inevitável choque, o empurra morro abaixo para a morte certa trazendo a seu povo um brado de vitória na forma de cascos erguidos ao ar em sinal de júbilo seguidos de um grande “béééééé” que ecoa até hoje em nossos corações ao visitar a região do Morro da Onça. Sim! Era mesmo ele o escolhido!

*A Fria Sopa da Vingança se reserva ao direito de usar a palavra “planície” no lugar de “planalto” toda vez que o autor achar que a troca corresponde aos dados precisos descritos em seus sonhos, pesadelos ou “visages de nirvusia”.

Charles Darwin e o Mercador de Escravos – Parte 2 [Final]

A multidão enfurecida havia agarrado Owen, amarrado num pedaço de madeira como carne recém-caçada e o levaram. O senhor Dibala, dono do hotel nos pediu desculpas pela indelicadeza da multidão e nos contou que a maior parte da ilha seguia uma nova fé chamada Darwinismo Evolucionista. Recentemente as igrejas dessa nova religião haviam se espalhado pelos quatro cantos do arquipélago (que só tinha 3 ilhas habitadas) em diversas congregações cujas duas mais famosas eram a Igreja Ateística da Santa Evolução da Sua Avó e a Congregação dos Santos Seguidores da Seleção Natural. A única razão de não terem unificado sua fé é que, enquanto os fiéis da Igreja Ateística da Santa Evolução da Sua Avó pregavam a inexistência de Deus e a glorificação da natureza, a Congregação dos Santos Seguidores da Seleção Natural pregava a glorificação da natureza e a inexistência de Deus. Os únicos pontos de consenso sob o qual se reuniam em congressos trimestrais eram que Darwin era o único senhor de Galápagos, e a celebração do carnaval, quando se realizava a seleção dos melhores machos e fêmeas para dar segmento à espécie durante as celebrações rituais endossados com verba pública. Faziam parte da celebração ritual a distribuição de cenouras para as mulheres velhas e a repressão da pederastia entre os jovens, os quais eram exorcizados pelo poder da “clava de Thor”, um evento público de grande alegria 3 dias antes do carnaval, quando se arrebanhavam os cidadãos em grupos de 3 com grandes ramos de urtiga com os quais desferiam carinhosas exortações aos jovens pederastas sob forma de golpes cerimoniais em suas nádegas após tê-los obrigado a tomar um laxante famoso na ilha conhecido por “garrafada de quebranto” enquanto um coral de crianças louvava a Darwin em sua sabedoria com o famoso hino nacional da ilha que era mais ou menos assim:

Learntfart! Learntfart! Liberdade, trabalho, amor… (gloc) Hamalai! Hamalai! Hamalai!”

Não lembro bem do resto, o que importa é que pra eles essas palavras faziam algum sentido…

– Esse é, de longe, o lugar mais escroto que o mar pariu em toda sua história! – praguejava Kermit, nosso marujo encarregado de limpar o vômito matutino. Ele também era o cara que subia no mastro pra checar a aproximação da terra. – É o seguinte senhor Dibala, o senhor saberia para que lados levaram Owen?

– Sim, eles o levaram até o rei para julgá-lo! Se querem seu amigo de volta, devo avisá-los que precisam agendar uma audiência, mas é complicado conseguir uma audiência com Darwin todo-poderoso. É necessário preencher um requerimento de 5 páginas da folha de bananeira timbrada real, abrir firma e autenticar no cartório nacional que fica próximo ao grande vulcão, e, por fim, entregá-lo em 3 vias distintas ao faxineiro real que tratará de entregá-las a Darwin, nosso senhor, o qual se encarregará de ler e convocá-los para audiência em data a ser determinada podendo ser revogado o direito a qualquer momento caso o grande rei tenha que empregar as folhas de bananeira timbradas reais para limpar as nádegas após o banquete real fazer efeito… Nos hospedamos no hotel e passamos a trabalhar como guias turísticos durante as romarias daquele trimestre em honra a Darwin, nos quais éramos visitados pelos nativos das ilhas do sul de Galápagos, para pagar a hospedagem fingindo conhecer o local.

– Mas que porra é essa? – dizia Casanova. Quanto tempo mais vamos passar nesse fim de mundo? – Aquieta vagabundo! A gente encontra o capitão na próxima audiência… Ou pelo menos foi o que disse o juiz da 15.ª vara de Galápagos… Ou pelo menos foi isso que eu entendi. Sei lá!

Naquela tarde, a tripulação e eu ficamos inquietos. Nunca passamos tanto tempo em terra e o prazo para entrega do… errr… carregamento poderia nos pôr em apuros. Aquela reunião parecia tudo, menos uma assembléia (e eu sei do que estou falando porque já fui a julgamento umas 5 vezes antes de conseguirem me colocarem nessa enrascada)! O rufar de tambores no cair da noite ao redor de uma fogueira com uma série de indivíduos vestidos com imitações rústicas dos típicos trajes europeus (embora eu deva admitir que marinheiros andavam em farrapos comparados com aqueles não-mais-tão-selvagens). Bailavam e rodopiavam, dançando como borboletas em contraste com as máscaras estranhas e ameaçadoras que usavam, cujas carrancas lembravam feras selvagens recém-saídas do próprio inferno. Havia ainda um cara num trono, ao que tudo indicava, era o rei de Galápagos. Adivinhem de quem se tratava? Outro maldito inglês metido a besta chamado Charles Darwin!! Sim “aquele” Charles Darwin! Mundo pequeno esse… Como ficamos sabendo, ele abandonou sua expedição de estudos, com a qual buscava algum respeito acadêmico na Europa. De fato, estava se tornando bem conhecido. Alguns de seus escritos estavam falando uma meia dúzia de sandices parecidas com as de Spencer e Lamark, mas, por algum motivo, agora as pessoas estavam engolindo. Imprestáveis estúpidos! Eu lhes mostro a mãe de quem descende de um macaco! Merda! Perdi o fio da meada… Ah sim! Darwin havia alcançado as ilhas e permanecido. Apenas seus escritos voltaram e os marinheiros do Beagle davam meias respostas sobre seu paradeiro. Apesar de mortes no mar e interceptação por piratas não serem incomuns, haviam chegado a um consenso que o pesquisador estava morto, ou, na melhor das hipóteses (e era isso que os marinheiros do Beagle justificavam) havia se perdido da tripulação numa das ilhas, podendo ainda estar lá. Poucos acreditavam nisso ouvindo como Charles “boca frouxa” Darwin vomitava como uma mulherzinha! Baita idéia de jerico, é o que eu digo! Trocar a segurança de casa e ir pra Galápagos pesquisar animais esquisitos.  Ele teve sorte de não morrer de peste bubônica, vomitar as tripas pra fora ou ser devorado por um tigre… Se bem que parece não haver tigres por aqui. Mas já vi tanta coisa nesses tempos de navegante que fariam você molhar a cama! …Bem, talvez não tantas, mas já ouvi algumas histórias estranhas dos outros marujos.

– Sejam bem-vindos compatriotas ingleses! – Disse o jovem Darwin. – Ingleses o caramba que eu sou irlandês! Berrou Jimmy, pavio curto, fazendo alguns guardas levantarem as armas.

– Tudo bem homens – disse Darwin. Algumas pessoas de onde venho são um tanto… Litigiosas. Afinal, o que os traz à minha humilde pátria?

Nisso avistei o capitão que imediatamente acenou com um grande cacho de uvas. Estava vestido como um palerma, então imaginei que Darwin o havia tornado o bobo da corte, o que não seria nada mal pra Darwin, o capitão realmente sabia interpretar uma história! O capitão se aproximou do rei e o saudou.

– E aí Charles Darwin! O que que se assucede no pedaço?

– Agora não Owen – disse Darwin.

– Então quer dizer que o grande Darwin bola a teoria da evolução, a seleção natural e o caramba à quatro e veio se tornar deus para um bando de nativos ignorantes?

– Não me entenda mal meu caro, eu não suportava mais aquele maldito balanço de maré de um lado pro outro, dia e noite, cair da cama e reescrever meus textos depois de horas por causa de um maldito solavanco indo pra cima e pra baixo, pra cima e pra baixo e… Bleuueerlgh! Bleuueerlgh! – gritava a multidão imitando o refluxo gástrico do grande mestre!

– Bem… Desculpem por isso, mas prosseguindo senhor… – Aaron. Aaron Maiden.

– Senhor Aaron Maiden… Eu tentei estabelecer contato com essas pessoas e elas se mostraram muito abertas aos ensinamentos da civilização, coisa curiosa porque normalmente eles preferem morrer a mudar seu estilo de vida normalmente, ou pelo menos é isso que se ouve dos que voltam da América. Ensinei-lhes o que pude de nosso idioma e aprendi alguns palavrões entre eles como “tománucú” e “féladaputa”, mas acho que minha maior conquista foi libertá-los de suas fracas noções de divindade.

– Explica pra eles Charles! Gritava Owen montado numa tartaruga enorme tentando equilibrar uma taça de karleesdrink no nariz e impressionar algumas nativas com suas sandices. Parecia estar funcionando.

– O que aconteceu aqui foi uma das maravilhas da antropologia! – Mas você não era biólogo caralho?! – Disse Casanova, com o máximo de sapiência que seu “extenso” vocabulário permitia.

– Ah meus caros, quis dizer que foi um fenômeno notável! Os pequenos pagãos pararam de adorar suas divindades e começaram a adorar a si próprios e a promover um melhoramento racial. A moral mais relaxada favorece melhores cruzamentos e eles não tem uma noção de certo e errado tão estóica – assim como os senhores! Ou pensam que não sei que abominação planejavam com meus súditos?

– Com todo respeito Darwin! Você não é apenas o rei desses nativos. Alguma coisa das suas idéias é idolatrada aqui e, por extensão, você é idolatrado aqui!

– Um homem pode se acostumar com essa vida oras! É bom ser grandioso uma vez na vida… Você chamou meu povo de ignorante meu caro Aaron Maiden, mas o que você diria ser mais prudente: acreditar que a vida evolui da matéria mesmo sem nenhuma evidência de que uma espécie mude em outra distinta com uma grande escala de tempo que ninguém poderia examinar ou acreditar que a vida, o universo e tudo mais são produto de uma inteligência assombrosa que se esconde de nós? – Bolou essa pergunta com um cérebro de macaco Darwin?

– Do’uh! – disse Darwin ao engolir essa. Bem… É… Bleuueerlgh! Bleuueerlgh! – gritava mais uma vez a multidão!

Foi a última vez que discutimos o assunto, já que alguns nativos começaram a pensar se não tinha sido uma burrada acreditar nas palavras de um maluco estrangeiro e torná-lo rei eleito. Mas quando tentavam pensar sobre os deuses chegavam à mesma conclusão, até que veio Barach, o grande, com sua sapiência pregava que o homem foi criado por Skull, o grande alienígena, mas foi acusado e castigado como pederasta no carnaval, apesar de sua inocência, até morrer acidentalmente enforcado numa cruz. Darwin continuaria sendo o rei de Galápagos e todos acatavam suas ordenanças. Inclusive Owen decidira ficar com os nativos, naturalmente polígamos, e favorecer o processo da “seleção natural”. Darwin foi contra já que Owen se tratava de um organismo com o qual aquele ecossistema ainda não sabia lidar. Quando Owen acusou Darwin de estar na mesma condição Darwin resolveu que precisava tomar um porre.

Miraculosamente Casanova quis voltar com a tripulação para evitar pagar a pensão de suas 25 amantes, grávidas em tempo recorde, e que haviam procurado informações sobre esse tipo de processo com o juiz da 15.ª vara, o que foi um tanto ineficiente dado o fato que eram 25 mulheres, se é que vocês me entendem. Não dá pra confiar num sistema legal que tem por símbolo uma galinha preta com os dizeres “corruptis in extremis” em latim. Darwin nos fez pensar sobre o tráfico de escravos e convenceu a tripulação a fugir para o Caribe, mudar o visual e realizar outro tipo de comércio, por exemplo, o de ópio. De fato, se mostrou muito mais humanitário aos olhos da tripulação. Foi aí que eu acordei.

F-I-M!

Charles Darwin e o Mercador de Escravos – Parte 1

Charles Darwin, o Rei! XD

Era mais uma tarde modorrenta no porto de Londres em 1839. Um ponto de encontro de emigrantes, imigrantes, fugitivos, marinheiros, piratas fugidos, arruaceiros e todo tipo de mercadores, desde especiarias a de escravos e prostitutas.

Essa história bem que poderia ter acontecido… se a realidade tivesse algum senso de humor…

Havia um mercador de escravos chamado Owen Stanley, o típico malandro que venderia sua própria mãe se tivesse a chance. Famoso por sua lábia e com uma habilidade incomum de aprender idiomas rapidamente, encontrou seu ganha-pão iludindo nativos por entre os 7 mares com promessas de apresentar-lhes “mundos estranhos e maravilhosos”. Os pobres nativos não haviam aprendido a julgar os estranhos como perigosos. Eram ingênuos e pacíficos demais para tanto… ainda mais por se fascinarem com as palhaçadas de Owen, as invenções do homem branco e – como não conheciam o teatro e o ilusionismo – Owen podia muito bem improvisar uma encenação de “divindade” local… exceto em um incidente em Moçambique em que as palavras “Deus” e “Fezes” tinham uma pronúncia tão próxima que nem mesmo Owen poderia escapar apenas com sua habilidade lingüística. Os floretes tiveram que quebrar o galho…

Também houve aquele incidente com batatas na Índia, mas Owen nunca falava a respeito. Aparentemente foi muito constrangedor.
Precisávamos de uma nova remessa de negros para atender a demanda em alguns engenhos de Café na América do Sul, especialmente no Brasil, mas as coisas estavam ficando difíceis em nosso ramo de negócios. Para facilitar, despachávamos os infelizes nos portos de madrugada em qualquer píer menos movimentado pra não topar com abolicionistas. Aparentemente as coisas vão mudar, mas o comércio de escravos continua. Não leve à mal, não é que não gostássemos daquela pobre gente, mas era isso ou ir pra masmorra.

Owen, eu e a tripulação éramos basicamente desordeiros, ladrões e vigaristas. Também havia o oficial Paul Conondoyle… Um grandessíssimo filho de uma vaca, eventualmente nos escoltando pra garantir que os malandros cumpririam seu acordo com a pátria mãe. “E Deus salve a rainha!” Por que diabos não podiam apenas nos despachar pra Austrália como faziam com todo mundo?! Felizmente ele não nos acompanhou dessa vez. Quanto maior a nossa distância dessa corja melhor.

Ao que parece algumas famílias escravocratas próximas da realeza precisavam de alguém pra fazer seu trabalhinho sujo sem perder seus dobrões de ouro negociando com descendentes de portugueses. Enfim, havia rumores de uma vila habitada num lugar que chamavam de Galápagos. Fomos checar na tentativa de “abastecer os estoques” de escravos. Como Owen era um ótimo ator ficava fácil enganar o pessoal dizendo que os levaríamos para mais um passeio por “terras místicas”. No final das contas as pessoas nos acompanhavam de bom grado e as viagens eram agradáveis… Pelo menos até um ou dois dias antes da chagada quando os acorrentávamos dormindo antes da entrega aos “clientes”. Deus, como eu odiava essa parte! Mas um homem se acostuma a fazer coisas ruins para salvar a própria pele.

No meio do caminho para Galápagos, comendo comida semi-estragada, entorpecidos de temperos e rum, eventualmente alguém tinha que limpar o vômito. Então…

– Terra à vistaaa! – Terra à vistaaa!

– Já não era sem tempo! – disse Owen. Finalmente sairemos dessa maldita barca do inferno!

– Qual é Owen! Você mal pára em pé em terra – disse Jimmy, o primeiro imediato e gigante irlandês.

– Eu que o diga! – zombava Kermit, o cara que limpava o vômito matutino.

– Calaboca Kermit! – disse Jimmy com o carinho típico dos Irlandeses.

– Eu só tenho estômago fraco, oras! – responde Owen – Mais um motivo pra eu querer sair de vez em quando da grande banheira de Deus, ora pois! Nem todos se acostumam com esse maldito balanço. Aliás, vamos aportar a qualquer momento. Mande esse grande monte de vagabundos se aprontar!

– Hail mein Führer!

– O que infernos isso quer dizer?

Ao que parece a avó de Jimmy era alemã e havia lhe ensinado alguma coisa do idioma – único idioma conhecido totalmente ignorado por Owen.

Quase 13 horas depois…


– Um arquipélago! Uma droga de arquipélago! Passamos por duas malditas ilhas que não tinham nada além de tartarugas do tamanho de São Bernardos. Aportar para procurar suprimentos homens! – Bradava o capitão.

– Onde capitão? – disse um dos imediatos.

– Eu é que sei?! Preciso de um porre depois dessa…

O capitão tinha motivos para se irritar, afinal, pelo que dava pra ver de relance deviam ser algumas dúzias de ilhas. De onde estávamos não saberíamos em qual iniciar à procura. Teríamos que descobrir qual delas era habitada. Abastecemos o navio e fomos de ilha em ilha. Dois dias depois finalmente alcançamos nosso objetivo. Uma ilha era habitada!
No entanto, nada nos prepararia para o próximo choque: os nativos eram civilizados! Pela primeira vez em 15 anos uma cultura diferente da que estávamos esperando. As mulheres estarem vestidas a rigor foi, com certeza, a maior decepção da tripulação, especialmente para John Casanova… Maldito pervertido! Como ousa conseguir mais mulheres em nossas viagens que toda a trupe de desdentados, pernas de pau e gigantes irlandeses?! Curiosamente, 3 anos depois ele seria devorado por uma tribo de pigméias amazonas na polinésia francesa. Ouvi dizer que o temperaram no caldeirão com alecrim, lhe quebraram as rótulas do joelho, ainda vivo, e o obrigaram a engolir os próprios bagos – posteriormente retirados de seu intestino e amarrados em colares cerimoniais. O que foi especialmente engraçado quando soubemos porque John odiava alecrim.
Na terceira ilha de Galápagos, a quem os nativos se referiam como “Learntfart Island” (literalmente “ilha onde se aprende a peidar”). Além de crises de riso não compreendidas pelos nativos, para os quais a palavra “fart” significava “grande rei”,  notamos na face norte da ilha o ápice da arquitetura daqueles selvagens recém-civilizados. Eles haviam construído a partir de folhas, pedras e madeira, entre as árvores nativas, um grande HOTEL para turistas, com direito a dança de cabaré regida por uma orquestra de tambores tribais e um chá escuro forte e espumoso apelidado de “karleesdrink” ou algo assim, com gosto próximo ao de cerveja preta.

As visões bizarras ficariam ainda mais bizarras. Nós nos entendíamos a maior parte do tempo. Owen nos explicou que esses nativos haviam mesclado seu dialeto a uma parte do idioma britânico em tempo recorde!
Owen, então, resolve bancar o profeta tentando, como sempre, iludir os nativos. Porém, para eles, a fala de Owen em inglês formal parecia pomposa e efeminada.

– Cidadãos de Learntfart Island! Ouçam-me! Somos enviados dos deuses de além-mar para trazer a vós outros nossa sagrada mensagem! Incumbidos por… Err, Michael Bolton, nosso poderoso senhor supremo de Far Far Away Island (Ilha de tão tão distante) que navega os 7 mares montado em seu portentoso… crocodilo sagrado, convoca a vós outros a serdes arrebatados para uma terra longínqua de delícias. Uma terra onde emana leite e mel! Sim meus caros amigos, somos vossos conservos de além-mar e viemos oferecer a vós outros a salvação!

Quantos de vós virão conosco para a terra prometida?

– Do que diabos ele esta falando? – perguntava uma mulher que deveria ser algo como uma garçonete.

– Blasfêmia! Isso é blasfêmia! – gritava um senhor de meia idade acompanhado de duas prostitutas com os seios desnudos.

A isso seguiu-se um murmúrio que se elevava cada vez mais alto num tipo de oração pausada por sons glotais e um estalido de língua dando a marcação de tempo da reza dos nativos:

“Só a Darwin adorarás! Sê fiel à seleção natural e dar-te-ei os genes da glória! (gloc!)

Só a Darwin servirás! (gloc!)

Ave Maria cheia de massas! O fermento é convosco, (gloc!)

Bendita sois vós entre as confeiteiras! (gloc!)

Abençoado o fruto de vosso forno, (gloc!)

Olhai por nosso bolo de passas recheado agora e na hora de nossa janta, (gloc!)

Lai-lai-lai-lai-lai! Oh hamalai!”

Aparentemente a confeiteira da família de Darwin, uma portuguesa de nome Maria Joaquina, de quem Darwin aprendera seus dotes culinários, era reverenciada pelos nativos que achavam ser ela a mãe de seu rei, logo, a detentora inicial de sua sabedoria e poder. Mas até esse ponto essa havia sido a primeira vez que o nome “Darwin” era mencionado.

– Não pode ser… Seria “aquele” Darwin? – eu pensava comigo mesmo.

Continua >>c

Tunico e Tinoco On The Peer

Mae_Pae_vs2 O que pode acontecer quando dois irmãos caipiras mineiros pescando no píer
de uma floresta equatorial próxima do mesmo porto em que o Pica-Pau (woody woodepecker) se deteve?
 
Barnabé, típico pingunço pau d’água resolve que faltavam piranhas na floresta para que ele e seu irmão pudessem degustar e resolve arranjar algumas em pleno sábado – qnd todos os cabarés de Minas Gerais estavam fechados. Isso poderia deter algumas pessoas, mas não Barnabé! Totalmente mamado ele prossegue em sua busca pesqueira em direção ao Píer mais próximo de sua casa de madeira constrúida por Gumerciniano, seu irmão irlandês e lenhador, medindo algo em torno de 1900 km.
 
A pé, Barnabé rimava enquanto sua vara balançava (a de pesca!) quando de então, de uma hora para outra, eis que sua espera era recompensada por um pneu! Alegremente, Barnabé pega carona com o primeiro mano motoboy que motoboyolava pelo píer em direção à floresta mas que, em seguida, seria derrubado por um Vectra vindo na contra-mão – o que obrigou Barnabé a continuar o resto do caminho a pé enfrentando neve, chuva, frio e alguns travecos que ofereciam seu trabalhos próximos ao Poupa-Tempo na cidade de Guarulhos-SP…
 
“No meio do caminho havia uma pedra… Havia uma pedra no meio do caminho…” Minas não há mais, mas Barnabé não queria catar ninguém naquele dia. Em seu regresso vitorioso a Minas Gerais, Barnabé carregava, como a um troféu, o pneu que pescara no píer. Adentrando à sua casa, demonstrava com técnicas inspiradas no Pai Mei (há muito aprendido com um mestre chinês que lhe dera carona na ViaDu-tra) como retirar de dentro de um pneu velho pescado uma bota de cowboy na qual estivera, durante milhares de anos em processo evolutivo (provocado pela seleção natural brasileira) um objeto de aspecto similar a um frango assado prontinho, ou um galináceo de natal qualquer que as pessoas consomem nos comerciais subliminares da Per-Digaum. Afinal por que comer piranhas quando se pode tirar uma galinha de dentro de um pneu?
 
– Barnabé, você é mágico! – salmodiava Gumerciniano com uma típica gaita de foles na qual introduzira seu charuto favorito em um dos orifícios do instrumento de sopro enquanto seu irmão aprontava a mesa para o jantar…