Tarzan das Ovelhas corria alegremente pelas ondulações das planícies* morro abaixo, com suas roupas em farrapos e seu black power monstruosamente coberto de poeira, em sapatos deslizantes, sob os quais percorria, em passos de quadrúpede, grandes distâncias entre os campos e as pradarias do Morro da Onça, num ângulo de 90 graus celcius, de onde pastoreava as ovelhas, que outrora o criaram, e seus descendentes, com os quais cursara o Ensino Fundamental.
Em um momento de lazer, Tarzan das Ovelhas se recreava deslizando morro abaixo enquanto suas irmãs ovelhas pastavam próximas ao rio. Naquele dia em especial, Tarzan das Ovelhas se sentia deslocado… Em diversos ossos por conta de uma queda de 5 metros da qual rolara em direção a uma rocha sedimentar milimetricamente disposta de modo a lhe proporcionar a mais crocante emoção em sua futura hérnia de disco 10 anos no futuro.
Mal sabia Tarzan das Ovelhas que haveria hoje de se tornar um homem. Derrapando devagar por entre as pedras para próximo de seu rebanho, ouvira passos que se aproximavam a galope rasante trazendo em seus cascos o terror da meia-noite. Sim, era o Boi-da-Cara-Preta que se aproximava.
Tarzan das Ovelhas era o único obstáculo, na estreita e íngreme passagem, que separava seu rebanho amado de seu cruel destino entre as afiadas presas do boi da cara preta. Como salvar seu amado rebanho? O rebanho que o acolhera quando bebê no dia em que fora abandonado por seus pais, que tiveram a audácia de morrer num acidente de carroça causado pelo excesso de álcool em um grande precipício próximo, deixando o pequeno Tarzan à própria sorte.
Em um ato de desespero, Tarzan das ovelhas avança em direção ao boi assassino e, segundos antes do inevitável choque, o empurra morro abaixo para a morte certa trazendo a seu povo um brado de vitória na forma de cascos erguidos ao ar em sinal de júbilo seguidos de um grande “béééééé” que ecoa até hoje em nossos corações ao visitar a região do Morro da Onça. Sim! Era mesmo ele o escolhido!
*A Fria Sopa da Vingança se reserva ao direito de usar a palavra “planície” no lugar de “planalto” toda vez que o autor achar que a troca corresponde aos dados precisos descritos em seus sonhos, pesadelos ou “visages de nirvusia”.